Espiritualidade em Movimento – Jovens, vós sois o agora de Deus, Os construtores de Sentido

Antonio Chaves de Santana

A XXXIV Semana Cultural Cordimariana fez-se “Palco da Vida”. Jovens dos grupos JUMA, MAJE, MACE e MADO, cheios de jovialidade e beleza, transformaram as pequenas salas de aula numa grande sala, alegre, entusiástica, onde vocês mesmos tornaram-se os protagonistas, os “fazedores de sentido, de conhecimento, de arte, de ciência e de espiritualidade”. O protagonismo é o caminho a ser trilhado pelos jovens dentro e fora da escola. Sem o protagonismo, o jovem não é motivado a assumir responsabilidade, a tomar iniciativa e a desenvolver habilidades de liderança.

A juventude deve ser vista como lugar teológico, encorajada a assumir um papel de liderança e ousadia nestes nossos tempos de liquidez, tornando-se jovens protagonistas da nova escola do século XXI. Apesar de vivermos momentos graves e grávidos de nossa história, vale a pena esperançar, ir atrás, se juntar, dando-se as mãos, construindo novas utopias, voando rumo ao futuro com sentido, pois, como diz o Papa Francisco: “Vós sois o agora de Deus”!

É verdade! Vivemos tempos de embriaguez e insensatez. Um vazio ético e espiritual toma conta de nós, deixando um grande mal-estar em nossas sociedades, indo desenfreadamente na direção do não-sentido. Esses tempos líquidos, em que tudo se desmancha de uma hora para outra, são de orfandade. Contudo, não perdemos o sentido da vida. A comunidade educativa é uma comunidade de vida em movimento contínuo. Por isso, apresentou para a SCC de 2019, a proposta de todas as propostas, a pergunta de todas as perguntas existenciais: Qual o sentido da vida, que parece ter se perdido neste século ligeiro da velocidade incontida?

A fadiga do mundo é a fadiga do não sentido. É o cansaço que o ser humano carrega, é o sentimento de que algo ainda o tortura. A fadiga do mundo contemporâneo é do ter e do consumir descontroladamente, o estrago deixado pelo egoísmo é tamanho que se torna difícil a reconstrução, pois, cada vez mais, o mundo marcha desmedidamente para o paradigma do mercado, motivado pelo neoliberalismo econômico. Esse mundo construído pelo mercado é um mundo cansado de si.

Os vínculos humanos e afetivos não poderão ser desfeitos facilmente. A relação com outro é desejo, diz o filósofo Emmanuel Lévinas, pois nos movemos para o outro por causa de um desejo metafísico que é bem maior que o desejo de consumir pessoas ou coisas para saciar algo que nos falta. O desejo metafísico é pelo absolutamente Outro, é infinito, é de sentido. Esse desejo é de um novo humanismo que se traduz no PPPP de nossa escola, que aspira novos cidadãos, criativos e críticos, fazedores de sentido numa sociedade que corre o risco de envelhecer moralmente e se corromper socialmente.

Nessa XXXIV SCC, a pergunta pelo “Sentido da Vida” chega em tempo oportuno, em que a vida é ameaçada e devastada. Por isso, essa pergunta é a mais fundadora de todas perguntas já levantadas pelos homens e mulheres de todos os tempos. A pergunta pelo “Sentido da Vida” não perdeu o propósito. Não somente faz sentido, como é sentido, pois o homem é um ser em busca do seu significado. Para nossos antepassados, os filósofos, somos “caçadores de sentido”, e o maior de todos é o sentido da vida. Como lembra Cora Coralina: Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos no coração das pessoas”.  

Então, caros jovens! A pergunta pelo sentido da vida continua sólida, firme e inabalável como rocha, válida para todas as gerações do presente e do futuro. Sócrates ensinava que a vida sem reflexão não vale a pena. Por isso, digo que, “sem a pergunta pelo sentido da vida, não haverá filosofar, e sem filosofar não há pergunta pelo sentido da vida”. A vida, JUMA, MAJE, MACE, MADO,é uma grande sedução onde tudo o que existe se seduz, e as emoções podem durar uma eternidade”, afirma Clarice Lispector.

Por isso, sejamos todos guardiões deste Planeta bonito, onde habita a vida, pois ela está ameaçada. Por esses dias, no Sínodo dos Bispos, realizando-se em Roma, os padres sinodais fizeram um pacto para salvar Nossa Casa Comum, assim como fizeram os bispos latino-americanos no final do Concílio Vaticano II, um pacto celebrado, historicamente denominado “Pacto das Catacumbas” em reparação à “dívida histórica que a Igreja tinha para com o homem latino-americano”. Naquela ocasião, Dom Hélder Câmara levantou a voz de profeta: “Estamos em dívida para com o homem latino-americano, basta de religião, ópio do povo”. Hoje, os bispos selam um novo pacto, não das catacumbas, mas de Santa Domitilia, em favor de Nossa Casa Comum, santuário da vida, pois moramos num Planeta onde tudo é sagrado, seja vida humana, vegetal ou animal, tudo deve ser respeitado, cuidado, protegido e preservado para as próximas gerações.

Prezados jovens! Viver é uma aventura exigente, é correr o sério risco de perder-se. Viver é encontrar outros indivíduos, outros sentidos, outras realidades, outras vidas. Viver é estranhar o mundo. É a aventura por excelência, a mãe de todas as aventuras possíveis. Compreender o sentido desta aventura, eis o viver a “Vida com Sentido”. Quando perguntamos pelo sentido, estamos nascendo outra vez para o mundo, pois nascer com sentido é atritar-se com o real que nos desafia todos os dias, todos os momentos. Uma vez nascidos, nada fará com que voltemos ao estado anterior, nada será capaz de reproduzir nossa inocência original. O mundo é maior que nosso berço e as cobertas que nos protegem. A partir deste “saber”, estamos definitivamente inscritos na existência. A inércia, elemento que jogava a nosso favor quando estávamos no útero, agora é nossa inimiga mortal. Agora, tudo é luta.

A XXXIV edição da SCC vem lembrar que o ser humano é primordialmente um Projeto Vivo no tempo e a pergunta pelo “Sentido da Vida” é a mais impactante e a mais exigente de todas as perguntas, por isso, crer na vida é crer no amanhã. E o amanhã é agora. Santo Agostinho dizia que é preciso crer para entender, e Tomás de Aquino completou: é preciso entender para crer.

Com Jesus Cristo jovem, explodiu e implodiu um derradeiro sentido para dentro e para fora de nossas vidas. Chegamos a um fim bom em Deus, o absoluto sentido de todas as vidas, que nos leva a reler o prólogo do Evangelho Joanino:

“No princípio era o Sentido

E o Sentido estava em Deus

E o Sentido era Deus.

No Princípio estava o Sentido com Deus.

Todas as coisas foram feitas por Ele

E sem Ele nada se fez de quanto foi feito.

No Sentido estava a vida

E a vida era a luz dos seres humanos.

E o sentido se fez cada um de nós.

E o Sentido armou tenda entre nós”.

 

Hoje, somos mais fortes, constituímos “Rede Cordimariana de Educação”. A metáfora da Rede é emblemática para nossos tempos. A ideia de rede exerce certa magia e encantamento, pois estamos todos conectados. As escolas cordimarianas juntas tornam-se mais fortes ao lançarem-se nas agitadas praias da pós-modernidade. Cremos que, numa ação conjunta, elas são capazes de realizar uma pesca milagrosa, semelhante àquela da noite do mar da Galileia, em que os discípulos de barcas vazias superaram o desafio da desesperança.

Estamos conscientes de que lançar as redes é um trabalho em conjunto e uma proposta corajosa. Estamos melhorando nossos barcos pedagógicos. Eles estão prontos para serem lançados nos mares hodiernos. Como escolas cordimarianas, com redes mais leves em mãos, conseguiremos ser pescadoras de novos alunos simpatizantes de nossa proposta pedagógica, e assim nossos barcos se encherão de crianças e jovens, no novo ano que se avizinha promissor.

Vocês estão de parabéns! Vocês fizeram o show da vida acontecer! Nós, Rede Cordimariana de Educação, Colégio Nossa Senhora das Graças, Comunidade Dirigente, funcionários e educadores, contamos com todos vocês em 2020. Estaremos felizes, pois na “Praia de nossa escola” de braços abertos, esperando a sua volta na praia da vida! Fiquem conosco! Como os discípulos que não se afastaram do Mestre Educador, e confiantes lançaram-se as águas profundas dos mares de suas existências. Ufanos comemoraram o sucesso da pesca milagrosa. Assim como Jesus estava na praia, esperando a volta dos discípulos, nós, todos, estaremos esperando por vocês em todos os recantos da escola. Amanhã será novo dia! A vida vai renascer, e juntos faremos um mundo melhor, uma escola melhor, uma sociedade melhor!

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